sábado, 4 de agosto de 2012

Tio Harlan 8: a tese de doutorado

Tio Harlan 8: a tese de doutorado


Um dia, sentado no sofá da casa do vovô, enquanto assistíamos TV, o tio Harlan conseguiu chamar a atenção de todos. Disse que queria ser doutor. Minha avó, toda inocente, achou que o filho estava tomando jeito, vergonha na cara. Sussurrou um “louvado seja o Senhor” e pensou que teria um médico na família. Que nada!

Depois de assistir a um documentário, o tio Harlan decidiu que seria doutor em Economia. Queria desenvolver uma tese histórica sobre o desenvolvimento do capitalismo. Para ele, Marx, Weber, Dobb e outros estudiosos não chegaram a elaborar uma tese perfeita sobre o assunto porque lhes havia faltado o essencial: a influência dos costumes sexuais da tribo Munkdóicos na gênese do capitalismo industrial. Era essa a proposta da tese do gênio da economia, ainda não descoberto e jamais publicado.

Naturalmente, como ainda não tinha feito o mestrado, não poderia concorrer a uma vaga no doutorado. Mas, o tio Harlan, sempre com aquela megalomania, achou que conseguiria convencer a banca a aprová-lo diretamente para o doutorado. Naquela época, isso era dificílimo. Todavia, ele acreditava que não seria impossível.

Ninguém acreditou quando chegou em casa e avisou que já tinha conversado com um professor. O sujeito se dispusera a orientá-lo. Por certo, era louco ou não havia entendido a proposta de pesquisa que lhe fora apresentada.

O fato é que depois daquele dia, durante um mês, ninguém conseguiu falar com o tio Harlan. Ele se trancou no quarto e passou a redigir o projeto da tese que tencionava escrever e defender. Vovó levava-lhe café da manhã, almoço e janta, sempre com dó do filhinho querido que, pasme, agora era um homem sério, aspirante a título de doutor de universidade pública. Pois a casa virou um sossego.

- Fiz minha inscrição! – foi a notícia bombástica.

Poxa, até eu que nunca me iludi com o tio Harlan, resolvi dar um crédito a ele. É bem verdade que fiz um esforço hercúleo para acreditar na sua “vocação” para pesquisa acadêmica. Estava quase me convencendo quando, um dia, ele chegou em casa com cara de revolta. Havia sido tremendamente injustiçado!

- O que aconteceu, meu filho? – perguntou vovó, já trêmula de piedade.

Todos ouviram sua história. A despeito de ter um projeto de pesquisa genial, capaz de mudar a história moderna da economia, o tio Harlan foi reprovado no processo seletivo para ingresso no doutorado. E a recusa não se deu pela ausência do mestrado.

Sucedeu o seguinte: além de um grande expert em economia, o velho Harlan tinha lá seus devaneios filológicos. Achava-se um linguista do porte de um Houaiss ou de um Aurélio Buarque. Resolveu inovar logo no início do projeto. Como era vidrado em palavras difíceis, queria achar uma correspondente para “introdução”, “introito” ou “prolegômenos”. Assim, abriu o projeto de sua tese de doutorado com o item “Prepúcio” que, na cabeça dele, significava início de alguma coisa.

Quando o pretenso orientador viu o projeto, exclamou:

- Caralho!

O tio Harlan, com aquela vocação ímpar para piada infame, explicou:

- Não é o caralho. É só o prepúcio.

Pronto. Recusaram-se a entrevistá-lo, mandando-o de volta para casa. Até hoje a vovó acredita que ele foi mesmo injustiçado. 


Tio Harlan continua me matando de orgulho....


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