sábado, 11 de janeiro de 2014

Naqueles tempos: 1992 e os caras-pintadas

Naqueles tempos: 1992 e os caras-pintadas

Tal como os escritores modernistas, creio que os caras-pintadas não tinham muita consciência do que faziam. É claro que o momento político incitava a todos os jovens a protestar, exprimir seus pontos de vista e discutir em rodas de bar as razões da iminente derrota de Collor. A despeito de uma parcela realmente interessada no debate político, havia uma turma que se comprazia em aproveitar a movimentação para, digamos assim, escoar alguns excessos da juventude. Correndo o risco do exagero e de certo conservadorismo, poder-se-ia dizer que os caras-pintadas eram, em sua maioria, uma turma de oba-oba! Uns inconscientes, como diriam os modernistas.

Não foram poucas as passeatas de protesto a favor do impeachment. Em cada cidade havia uma, desde que, é claro, nela houvesse alguma turbulência política. Vi a passeata de Araraquara, em 1992. Não tinha o entusiasmo necessário para engrossar as filas da rebeldia política, mas acompanhei da calçada, juntamente com alguns amigos mais contidos, como eu.

Até mesmo pré-adolescentes e adolescentes estavam por lá. Era interessante ver aquela gente tão nova já participando da política, da definição do destino de um presidente que, após longo tempo de eleições indiretas, havia vencido o pleito eleitoral. Muitos deles diziam que tinham opinião e queriam-na respeitada. Bradavam pela transparência, pela ética, pela democracia e pela moralidade na política. Em suma, levantavam as bandeiras que o então maior partido da oposição (PT) defendia. Às vésperas do século XXI, a puberdade passou a incluir entre seus atributos uma sólida consciência política. Era de admirar!

A respeito do assunto, há algum tempo, Mariana Ximenes, atriz global, deu uma entrevista no quadro Minha Adolescência, do programa Altas Horas, dizendo que se lembrava do impeachment, que saiu às ruas, etc: “Me lembro do impeachment. Me lembro forte. A gente saía na rua. Foi uma época muito marcante. Tirar um presidente...”. Em 1992, a atriz tinha 11 aninhos e já era imbuída de consciência política. Como ela, deve ter havido tantas outras jovens “conscientes”...

Quando olho para trás, fico curioso: gostaria de saber o que aqueles jovens tão engajados pensam do momento atual, como interpretaram a ascensão de Lula e a prisão dos chamados mensaleiros. Também me pergunto se chegaram a redefinir suas noções de respeito à coisa pública, lisura, ética, democracia...

Será que, hoje, eles também têm alguma opinião?

Em tempo: o link para a citada entrevista de Mariana Ximenes (http://www.youtube.com/watch?v=VQOfPF1ZQUMfoi retirado do Youtube com a seguinte justificativa: "A conta do Youtube associada a este vídeo foi encerrada devido a várias notificações de terceiros sobre a violação de direitos autorais. 


4 comentários:

Unknown disse...

Roberto, respondendo à sua pergunta, fui a duas passeatas na Paulista e também não tinha real consciência do que fazia (tinha 15 anos...), embora não negue um certo orgulho de ter estado lá; minhas ideias sobre o significado de uma República amadureceram muito (naquela ocasião tinha 15 anos); me parece que os ídolos da época já tinham suas ideias maduras, pena que apodreceram... Abç, Guilherme

Unknown disse...

Roberto, respondendo à sua pergunta, fui a duas passeatas na Paulista e também não tinha real consciência do que fazia (tinha 15 anos...), embora não negue um certo orgulho de ter estado lá; minhas ideias sobre o significado de uma República amadureceram muito (naquela ocasião tinha 15 anos); me parece que os ídolos da época já tinham suas ideias maduras, pena que apodreceram... Abç, Guilherme

Unknown disse...

Roberto, respondendo à sua pergunta, fui a duas passeatas na Paulista e também não tinha real consciência do que fazia (tinha 15 anos...), embora não negue um certo orgulho de ter estado lá; minhas ideias sobre o significado de uma República amadureceram muito (naquela ocasião tinha 15 anos); me parece que os ídolos da época já tinham suas ideias maduras, pena que apodreceram... Abç, Guilherme

maz disse...

Pito, e alguém sabe realmente o que está fazendo em momentos como aquele ou em junho passado? Lá, no calor da coisa toda, não se sabe o que exatamente se quer, embora haja tanta vontade e energia em tanto querer.